1 – A Teologia Neo
Testamentária e sua Influência Pós-Moderna
A
teologia do Novo Testamento é interpretada segundo muitos eruditos como uma
conseqüência da história da religião racionalista até a sua forma absoluta,
descobrindo na Bíblia idéias religiosas que estavam em consonância com uma
teologia dogmática aprimorada para os tempos modernos, não só uma teologia
histórica, mas uma visão transcendente do Divino. Segundo Hegel (1813) apud LADD
(2003, p. 18) “[...] o movimento do pensamento humano seguia o padrão dialético
de uma posição (tese) para outra oposta (antítese); e da interação dessas duas
emergia um novo discernimento ou aspecto da realidade (síntese)”. Mesmo que
essa afirmativa pudesse influenciar muitos estudiosos de sua época e
conseqüentemente da atualidade, muitos abandonam os pensamentos racionalistas
para encontrar uma verdade eterna no Novo Testamento e nos movimentos
históricos da igreja primitiva na revelação da sabedoria e do espírito em Jesus
Cristo, acentuando uma reflexão teológica ortodoxa.
Ainda
conforme [1]Bultmann,
“[...] a tarefa da teologia é a de descobrir um ‘conceptualismo’, cujos termos
pudessem aproximar a mensagem do Novo Testamento à cosmovisão moderna” (BULTMANN,
p. 253), ou seja, quando o cristianismo é privado de sua objetividade, cuja
idéia fundamental é a intervenção livre e sobrenatural de Deus na própria
história eclesiástica, se tornaria uma religião como outra qualquer, abstrata,
ilusória e sem a autenticidade relida apenas pelos “olhos da fé”. Apoiando-se
num esquema interpretativo existencialista, Butmann interpretava o Novo
Testamento se valendo de métodos histórico-críticos, para eliminar do próprio
texto os elementos resistentes ao sistema filosófico existencialista, ou
mítico, expressão pela qual ele afasta-se teologicamente de uma formulação
ortodoxa e evangélica comum, aceita pela maioria dos estudiosos, que (segundo
ele) empregavam uma linguagem mitológica, a exemplo: “[...] vindo a plenitude dos
tempos [...]” (Gl. 4.4b).
A
concepção mítica do universo corresponde a exposição do acontecimento
salvífico, que constitui o conteúdo verdadeiro da proclamação neotestamentária.
A proclamação emprega linguagem mitológica: eis que é chegado agora o tempo
final; “vindo a plenitude do tempo”, Deus enviou seu filho. Este um ser divino
preexistente, aparece na terra como um ser humano, sua morte na cruz, a qual
ele sofre como um pecador propicia expiação para os pecados dos seres humanos
(BULTMANN, 1987, p. 253).
Essa linha de
raciocínio dá margem a um ponto crítico na erudição de Bultmann que tende a
transformar o pensamento cristão em um mero comentário a cosmovisão moderna.
Toda a mensagem do Novo Testamento tem de ser repensada em categorias
existenciais, e nisto o evangelho perde o seu valor e sua força, e passa a ser
mais uma boa filosofia de vida. Essas novas abordagens teológicas naturalmente
encontraram resistências dos círculos ortodoxos, não só dos que negavam a
validade de uma perspectiva histórica, mas também daqueles que procuravam
combinar o método histórico com uma fé firmemente apoiada na revelação. Também
sob a influência da teologia de [2]Ritschl,
a essência do cristianismo foi interpretada como uma religião puramente
ético-espiritual, que foi proclamada e incorporada na vida e missão de Jesus. O
Reino de Deus é o bem supremo, o ideal ético. O âmago da religião é a comunhão
pessoal com Deus, como Pai.
Esta perspectiva
"liberal antiga" chegou a influenciar até mesmo escritores
conservadores. Tanto B. Weiss (Theology oflheNT, 1868, Ingl.
1903) como W. Beyschlag (NTTheology, 1891, Ingl. 1895)
interpretaram Jesus primeiramente em termos espirituais, dando grande ênfase ao
aspecto da centralidade da Paternidade de Deus. Esses homens podem ser
considerados conservadores pelo fato de terem reconhecido a realidade da
revelação e a validade do cânon; mas o quadro que apresentam de Jesus reflete
elementos característicos do liberalismo. Eles também empregam o método dos
"sistemas de doutrina", em que Weiss foi tão longe, a ponto de
descobrir quatro períodos distintos de desenvolvimento teológico em Paulo, os
quais trataram separadamente (LADD, 2003, p. 20).
O
liberalismo teológico opunha-se aos sistemas doutrinários, encontrando nos
ensinos simples e éticos de Jesus, o elemento distintivo da teologia Bíblica,
mesmo que seus representantes levassem, até certo ponto, considerando o
ambiente religioso do cristianismo primitivo uma influência natural do judaísmo
helenístico. [3]Otto
Pfleiderer, corroborando com essa ideologia, pressagiou uma nova abordagem:
O escopo da teologia do Novo
Testamento é a formulação de expressões das experiências religiosas vivas do
cristianismo primitivo compreendido à luz de seu ambiente religioso, e não a
formulação de verdades imperecíveis quer estas sejam mediadas por uma revelação
sobrenatural, quer sejam descobertas pelo exercício do pensamento racional. Por
esta razão, a conseqüência natural foi o deslocamento da Teologia do Novo
Testamento em favor da história da religião no cristianismo primitivo (LADD,
2003, p. 21).
Durante
a década de 1920, um novo ponto de vista começou a tomar forma, o retorno
contemporâneo à teologia Bíblica. “[...] A perda da confiança no naturalismo
evolucionista, [...] uma reação contra o método puramente histórico que
reivindicava uma total objetividade [...] e a recuperação da idéia da revelação”
(LADD, 2003, p. 22), levou à convicção que a Palavra de Deus continha tanto a
história quanto uma verbalização a respeito de um significado superior da
mesma. A teologia liberal fora questionada mudando a natureza de estudos do
Novo Testamento.
Nos anos seguintes, a
crítica dos Evangelhos voltou-se para o estudo da tradição oral do evangelho (Formgeschichte
["a história das formas"]) em uma tentativa de descobrir como as
leis que controlavam a tradição poderiam explicar a transformação do Jesus
"histórico" no Cristo kerigmático (divino), üm resultado positivo
desses estudos, extremamente relevante, foi o reconhecimento de que a crítica
da forma não pôde encontrar, em qualquer registro da tradição do evangelho, um
Jesus puramente histórico (isto é, humano). Porém, duas conclusões distintas
resultaram dessa concepção. Por um lado, encontra-se o agnosticismo dos
críticos da forma, como Rudolf Bultmann,
um estudioso que considera o Jesus histórico tão profundamente obscurecido pelo
Cristo da fé, que já não é possível conhecer quase nada a respeito da vida e da
personalidade de Jesus. Bultmann só percebe uma descontinuidade entre o Jesus
da História e o Cristo do kerigma, razão pela qual excluiu Jesus do tema da teologia
do Novo Testamento (LADD, 2003, p. 23).
Muita
literatura foi produzida nestes últimos 20 anos sobre a Teologia do Novo
Testamento, umas, com pouca influência, como foi o caso de escritores
americanos que não contribuíram muito, mas diferentemente os alemães avançaram
numa perspectiva criativa e abrangente, dividindo opiniões entre uma abordagem
teológica de interpretação do Novo Testamento e uma abordagem estritamente
científica.
2 – Uma
abordagem às Teologias de Pedro, Paulo e João
A
teologia nasce à medida que os sucessores dos apóstolos começam a refletir
sobre os ensinamentos de Jesus e a partir deles tentam explicá-los em novos
contextos e resolverem polêmicas que ponham em contradição a crença e a conduta
cristãs apostólicas. Os apóstolos deixaram seu legado escrito, pelos quais
cópias foram imprescindíveis para termos em mãos tudo que existe hoje, falando
de material que dão apoio ao conteúdo Bíblico, sendo assim, os primeiros
teólogos cristãos foram os bispos e outros ministros e líderes de congregações
do Império Romano, ou também conhecidos por “pais da igreja”. A teologia em si,
assim como a ortodoxia correta surge justamente em um ambiente turbulento pelos
desafios impostos aos ensinamentos cristãos por sectários que se apresentavam diante
da igreja de Cristo.
O ano de 70 DC – quando Jerusalém foi destruída – é um
tempo transicional para a verdade do Evangelho. A Igreja Judia, formada no dia
de Pentecostes, chegou ao seu fim (na verdade, já havia acabado; isso foi
apenas tornado público naquela ocasião). A obra de João, entretanto, é um tanto
diferente. Ele não ensina verdades dispensacionais. Em seu Evangelho, ele não
menciona a ascensão de Cristo; em suas Epístolas, ele não aponta a posição
celestial dos santos. Pelo contrário, ele se concentra no Senhor Jesus como o
Verbo se fazendo carne, e vindo dos céus para a terra. A obra de João se segue
à de Pedro e de Paulo, e isso supre a falta deles. João reúne, ao mesmo tempo,
a primeira e a última vinda de Cristo, e a sua obra cobre toda a duração. Ele
prega a pessoa de Cristo e a vida eterna. Apesar do fato de que, exteriormente,
a dispensação tenha sido corrompida, a vida eterna permanece sem mudanças. Isso
nós vemos nos dois últimos capítulos do evangelho de João. As obras de Pedro e
de Paulo sofrem mudança dispensacional, mas a obra de João transcende a essa
estrutura. Ele mostra o Senhor Jesus como a vida eterna que não pode ser
mudada. Embora a igreja apóstata possa ser vomitada da boca do Senhor, o próprio
Senhor permanece o mesmo (LADD, 2003).
Portanto, é extremamente
importante que se compreenda as obras destes três apóstolos: Pedro fala da
falha da igreja Judia; e Paulo, da falha da igreja Gentia. Após haverem acabado
as obras de Pedro e de Paulo, João dá continuidade às suas obras: ele
simplesmente narra a condição falida das igrejas de seu tempo. As igrejas sobre
as quais João escreve são um tanto diferentes daquelas sobre que Paulo
escreveu.
Nesse enfoque a visão
teológica nos pensamentos dos apóstolos Paulo, Pedro e João é estudada por
homens comprometidos com a verdade por várias gerações. Tudo isso possível
graças à unidade essencial e harmonia dos seus textos, elos que só são
possíveis pela inspiração superior de um Deus, fazendo com que haja um corpo
teológico que se nutre da história nas Escrituras.
[4]Ello es
posible dada la unidad esencial y la armonía de la revelación en su desarrollo.
En la Biblia observamos, paralelamente a una línea histórica bien marcada, una
línea teológica que interpreta y da valor a la historia. Esta segunda línea,
pese a la diversidad de circunstancias cambiantes que la envuelven, mantiene su
continuidad e invariabilidad. Con diferencia de matices, de énfasis, de
profundidad, de lenguaje incluso, se mantienen desde el principio hasta el fin
de la revelación las mismas concepciones de Dios, del hombre, del pecado, de la
gracia, de la redención. Podemos, pues, hablar de una teología bíblica,
fundamento de toda teología sistemática, y descartar la idea de una pluralidad
de teologías sostenida por algunos [...] no lo tiene afirmar la existencia de
diferentes teologías (paulina, petrina, joanina, etc.) en el Nuevo Testamento,
independientes y en algunos puntos contradictorias entre sí. Nadie negará la
diversidad de enfoques y acentos que cada escritor bíblico da a los temas doctrinales
que trata, pero esa diversidad no equivale a pluralidad de teologías. Señala
más bien una unidad teológica polifacética, como era de esperar en el
campo, amplio y complejo, de las doctrinas contenidas en la Biblia. (MARTINEZ,
1984, p. 217 e 218).
Deve-se
lembrar que a Bíblia Sagrada é o meio pelo qual a revelação de Deus vem até o
homem, e esta revelação inclui um conjunto de fatos e as verdades com um fundo
doutrinário e didático. Este conjunto é orgânico, é coerente com cada parte o
qual mantém uma relação harmoniosa com o todo. Não há inconsistências ou
contradições entre elas, sendo assim, o que os evangelhos sinóticos falam os
pensamentos joaninos, paulinos e petrinos ratificam.
Fica um questionamento
acerca da teologia joanina. Por conseguinte o problema teológico que nos coloca
a teologia joanina não é a pergunta em si muito válida até que ponto os relatos
sobre Jesus e as palavras de Jesus no evangelho de João apresentam noticias
historicamente fidedignas. A pergunta teológica decisiva é: se essa imagem de
Jesus feita pela fé pode ou não ser compreendida como interpretação correta do
agir divino na pessoa de Jesus sob o ângulo da situação da comunidade de fé na
época tardia do cristianismo primitivo? Embora todos os Evangelhos do cânon
sagrado tenham em Jesus o seu eixo, diferente dos sinóticos, João apresenta um
Jesus mais enfático, onde o “Eu” está sempre em destaque, indicando Jesus de
forma mais direta. Ele ainda apresenta um forte dualismo (luz x trevas, carne x
espírito, etc.), utiliza-se de um grego mais simples em relação aos demais,
trazendo um foco teológico e não histórico. O quarto evangelho devido a suas
profundezas teológicas tornou-se fonte de inspiração de várias literaturas por
várias gerações (LADD, 2003).
[1] Teólogo e escritor protestante alemão (1884 –
1976). Estudou teologia nas Universidades de Tubinga, Berlim e Marburgo.
Professor nesta última universidade desde 1921 até a sua aposentadoria em 1951.
Muito discutido, tanto nos círculos protestantes quanto nos católicos, por sua
interpretação dos Evangelhos, da pessoa histórica de Jesus e de sua mensagem,
aplicou as normas da crítica histórica do século XX, assim como o método das
formas ao texto bíblico. Esteve em contato com as correntes filosóficas
modernas, valendo-se, principalmente, da análise existencial de M. Heidegger.
De imensa erudição e capacidade, é uma figura importante e discutida do
pensamento cristão atual.
(BULTMANN, Rudolf. Crer e Compreender. Artigos
Selecionados. Editor: Walter Altmann. Trad. Walter O. Schlupp e Walter Altmann.
Editora Sinodal. São Leopoldo, RS. 1987).
[2] Albrecht Ritschl foi um grande teólogo do
protestantismo liberal alemão. Nasceu em Berlim em 1822 e faleceu em 1889.
Tornou-se bispo e um grande pesquisador, estudando teologia em Bonn e em Halle.
Foi professor em Halle e em Göettingen. Foi influenciado por pensadores como
Immanuel Kant, Friedrich Hegel e Friedrich Schleiermacher. Em seus estudos deu
ênfase ao Novo Testamento, História do Cristianismo e Dogmática. Essa ênfase é
claro em sua obra Die Christliche Lehre von der Rechtfertigung (A Doutrina
Cristã da Justificação e Reconciliação) publicada em 1870 em três volumes.
Como teólogo protestante alemão, estudou não somente o novo testamento, mas
também a grande figura do protestantismo, Martinho Lutero. Como liberal, a
ortodoxia protestante encontrou resistência no teólogo, que procurou
reinterpretar o luteranismo a partir de seu liberalismo.
(Recuperado do site: <http://bloghistoriacritica.blogspot.com/2009/11/ritschl-albrecht.html> Acesso em: 16 de jul
de 2011).
[3] Ele nasceu em Stetten (agora uma parte da Kernen , Baden-Württemberg ), em Württemberg . De 1857
a 1861 ele estudou na Universidade de Tübingen sob FC Baur , e depois na Inglaterra e
na Escócia . Ele
então entrou no ministério, tornou-se "repetent" em Tübingen, e por
um curto espaço de tempo realizou um pastorado em Heilbronn (1868). Em 1870 ele se tornou pastor-chefe e superintendente da Universidade de Jena e logo depois ordinarius
professor de teologia, mas em 1875 ele foi chamado para a cátedra de teologia sistemática em Berlim, tendo feito o
seu nome por uma série de artigos sobre Novo Testamento crítica e joanino e
teologia paulina, que apareceu em Adolf Hilgenfeld 's Zeitschrift für
Theologie Wissenschaftliche, e por sua Paulinismus Der, publicado em
1873. Das Urchristentum, Schriften und seine Lehren, em geschichtlichen
Zusammenhang beschrieben foi publicado em 1878 e consideravelmente ampliada
para uma segunda edição em 1902. (Origem: Wikipédia).
[4] Isto é possível por causa da unidade
essencial da revelação e harmonia no seu desenvolvimento. Na Bíblia vemos, em
paralelo com uma história bem marcada, uma linha teológica que interpreta e dá
valor à história. Esta segunda linha, apesar da variedade de alteração das
circunstâncias que a rodeiam mantém a continuidade e constância. Com diferença
de tonalidades de ênfase, a profundidade, a linguagem, mesmo mantido desde o
início até o fim da revelação as mesmas concepções de Deus, o homem, o pecado,
a graça, a redenção. Podemos, portanto, falar de uma teologia bíblica,
fundamento de toda teologia sistemática, e descartar a idéia de uma pluralidade
de teologias realizada por alguns [...] não tem que afirmar a existência de
diferentes teologias (Paulina, Petrina, Joanina, etc.) no Novo Testamento,
independente e em alguns pontos contraditórios entre si. Ninguém vai negar a
diversidade de abordagens e ênfases que cada escritor bíblico dá a questões
doutrinárias envolvidas, por essa diversidade e não pluralidade igual de
teologias. Pontos em uma multifacetada unidade teológica, como esperado no
campo, amplo e complexo das doutrinas contidas na Bíblia. (MARTINEZ, 1984, p.
217 e 218) Tradução.
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