INTRODUÇÃO
Quando se procura restabelecer o texto original de uma
fonte escrita onde o seu autógrafo não mais existe, abre-se um hiato ainda
maior na transposição dessa literatura, principalmente quando se sabe que o
texto relaciona-se à Bíblia Sagrada, ou mais precisamente ao Novo Testamento –
assunto em estudo desse compêndio – e que tem estabelecido as bases do
cristianismo com suas características teológicas, materiais históricos,
políticos, religiosos e doutrinários.
O material
com que os críticos textuais trabalham, ou seja, as cópias manuscritas destes
livros e epístolas na língua original, o grego, são uma das formas que a
reconstrução da história cristã pôde atingir seu ápice ao mundo contemporâneo e
somado a fé de todos que professam uma assertiva confiança em Jesus Cristo, o
tema central das Escrituras. A esse cuidado no estudo sistemático diante desta
diversidade nos documentos (só o Novo Testamento é responsável pela composição
de 27 livros canônicos) é que se percebe a existência de uma forte e
fundamental unidade entre eles, escritos num período de tempo bem menor, é
verdade, que os do Antigo Testamento, mas que traduzem uma importante
construção de uma religião – cristianismo – acrescida pelo testemunho de fiéis,
pela tradição oral e pelo envolvimento dos líderes com seus liderados no
transcorrer da história.
A
literatura desenvolvida nesse trabalho, assim como sua perspectiva teológica e
crítica, é ortodoxa e evangélica, porém, se fez necessário em algumas laudas
comparar alguns textos com literaturas apócrifas e outras não-ortodoxas que,
além de enriquecerem o mesmo, comprovam ainda mais a autenticidade do cânon do
Novo Testamento e empreendem uma teologia Bíblica adequada, com uma
infra-estrutura fornecida pelo Antigo Testamento – base esta que seria
impossível separar.
1 –
Antecedentes Políticos, Culturais e Religiosos do Novo Testamento: O Cenário
Intertestamentário
O Novo Testamento, com seus vinte e sete livros
compõem a 2ª parte da Bíblia Sagrada, porém tem somente um terço do volume da
1ª parte, o Antigo Testamento, que passa a cobrir um período de milhares de
anos em contraposição a menos de um século da história neo-testamentária.
O enredo do Antigo Testamento se finda com o cativeiro
imposto pela Assíria ao reino do Norte (Israel) e do cativeiro babilônico do
reino Sul (Judá). Os estudiosos são de acordo que os quatro séculos, após o
regresso, à Palestina de parte dos exilados cativos dividem os dois testamentos
e denomina-se o período [1]intertestamentário,
ou os quatrocentos anos de silêncio nos registros sagrados e pelas vozes dos
profetas. É durante esse período que grandes nomes surgem no cenário político,
e um deles é Alexandre o Grande, que se tornou o senhor do antigo Oriente
Médio, quando derrotou vários adversários durante a sua breve vida, expandindo
sobremaneira a cultura grega. Após a morte deste notável líder, lutas internas
pelos seus principais generais e posteriormente externas, após a investida dos
Macabeus, fazem com que os judeus, antes cativos, recuperassem a liberdade
religiosa, consagrassem novamente o templo e conquistassem a Palestina, a qual,
anos mais tarde um general romano, chamado Pompeu, a conquista (63 A.C.), de
modo que, durante o período do Novo Testamento, esta, estava sobre o domínio de
Roma (GUNDRY, 2007).
A grande maioria dos estudiosos é de acordo que tanto
judeus, como gregos e romanos contribuíram para a preparação religiosa do
messias. Roma antiga traduziu a maior e mais completa organização política e
grande unidade aos seus cidadãos sob uma lei universal, que criou um ambiente
favorável à aceitação do Evangelho; a expansão geográfica dos romanos e seu
poderio imperial tornaram maior a livre movimentação em torno do mundo
mediterrâneo, e naturalmente mais fácil a propagação do Evangelho pelos
primeiros cristãos, contudo, foi através do ambiente intelectual deixado pelos
gregos que os homens desenvolveram-se culturalmente. O [2]helenismo
é visto desde a língua oficial, o grego – precisamente o dialeto koinê – que os
indivíduos conseguiram se comunicar com outros povos do mundo antigo, até a
filosofia grega, que põe à parte a imposição das antigas religiões e força o
homem a passar a decidir através da razão inteligível em busca das necessidades
espirituais; ocasião em que o Cristianismo pôde receber mais facilmente
aceitação entre as pessoas, que podiam preencher plenamente o vazio que falsas
religiões, deuses estranhos e falsas filosofias não podiam preencher (CAIRNS,
2006).
Os judeus formam a herança central do Cristianismo e é
deles que pressupõem a existência perfeita de Deus e aperfeiçoam o culto e suas
formas. A salvação viria dos judeus, como Cristo afirmou àquela mulher no poço
(Jo. 4;22). O judaísmo adotava o monoteísmo e era totalmente contrária a grande
maioria das religiões pagãs da época; a lei judaica tem o mais perfeito sistema
ético na moral individual e coletiva; as profecias messiânicas tiveram seu
grande cumprimento no Novo Testamento; tornaram possível uma filosofia da
história; e legaram à Igreja em formação o Antigo Testamento. Positivamente, os
judeus ajudaram a preparar a “plenitude dos tempos”, quando o Emanuel veio
salvar os homens, e significativamente, apenas o Judaísmo e o Cristianismo,
dentre tantas religiões praticadas no império romano, tenham sobrevivido ao
curso da história da humanidade (CAIRNS, 2006).
Os romanos podem ter conquistado os gregos pela força,
mas a influência do helenismo apodera-se da mente dos romanos, e neste duelo
entre físico e intelecto, fica difícil dizer quem conquistou quem. É nesse
ínterim que os Judeus dão significado à história, tornando-a linear, num
processo de evolução e permissão divina, no qual o Jeová soberano criou a história
e a preparou para a chegada do seu Filho.
2 – O Ambiente
no Primeiro Século do Novo Testamento D.C.
As
questões relacionadas ao caráter circunstancial, à diversidade e à evolução do
pensamento decorrem da natureza e da história documental dos registros
neo-testamentários, ou seja, a coleção destes livros é fruto do processo
evolutivo e da divisão em duas fases principais: a primeira fase narra a
história breve do ministério de Jesus Cristo aproximadamente em 30 d.C., e a
segunda fase consiste no período depois da morte do Messias, onde os cristãos
crescem, desenvolvem-se e propagam a mensagem do Evangelho.
O limite entre as duas fases está obscurecido pelo fato de os evangelhos
terem sido escritos somente durante a segunda fase (e, de acordo com a visão
geral, bem no final do período), de forma que, até certo ponto, refletem
inevitavelmente os interesses e a perspectiva dessa etapa. Portanto, existe um
delicado problema de caráter histórico na tentativa de se descobrir exatamente
o que Jesus disse e fez, e a forma como Ele teria sido visto pelas pessoas de
seu tempo (MARSHALL, 2007, p. 20).
O
ambiente secular do Novo Testamento era bastante mesclado pelas culturas,
religiões, costumes, e basicamente, três povos (como já citados) compunham a
base desse sistema social, ou seja, gregos, romanos e judeus. Apesar de o latim
ser a língua oficial do império romano, era o grego o idioma comum,
principalmente entre os habitantes da Palestina, que também falavam o aramaico
e o hebraico. As estradas do império romano eram famosas, embora na Palestina o
sistema de rodovias fosse deficiente. Pessoas viajavam de pé, em lombo de
burros, a cavalo, ou em carruagens e liteiras, dependendo do nível social do
indivíduo. Num conjunto, estradas, rios e o mar Mediterrâneo eram responsáveis
pelas linhas de comunicação, onde cartas e documentos, feitos de papiro,
óstracos, tabletes recobertos de cera, e o couro ou o pergaminho caso fosse um
manuscrito importante. As casas de moradia dos romanos (porção ocidental) eram,
na zona urbana, construídas de tijolos e concretos, e na zona rural, casas de
madeira ou cabanas; na porção oriental as casas eram feitas de estuco e de
tijolos cozidos ao sol. As cidades e moradias na Palestina eram diferentes e
bem atrasadas das greco-romanas, e eram baixas e com cobertura plana,
edificadas de tijolos de barro amassados com palha e ressecados ao sol. Geralmente
a sociedade pagã era vigorosamente diferenciada, contrária as classes sociais
judaicas que procuravam nivelar de forma mais adequada, a exemplo, a família
era a unidade social básica e tida como dádiva dos céus. Deve-se acrescentar
que as questões relativas à moralidade eram bastante baixa, atribuição às
divindades pagãs que influenciavam os meios sociais da época (GUNDRY, 2007).
3 –
Tendências Religiosas do Período Greco-Romano
“O
mundo durante o primeiro século da era cristã fez um progresso triunfal mesmo
diante das adversidades, contudo “[...] o judaísmo foi o berço em que cresceu o
cristianismo, e com essa fonte tem uma dívida sem igual [...] ele marcou
profundamente [...] a liturgia e o ministério da igreja, e principalmente seu ensino
[...]” (KELLY, 2009, p. 05). Quando se verifica esse fato, deve-se perceber que
tanto o judaísmo da Palestina, quanto a versão helenizada e propagada em
Alexandria é influenciada, um na era apostólica, quando caracteriza o
pensamento dos escritores do Novo Testamento, no entanto não deve ser
negligenciado o fato dos cristãos romperem com os judeus, e o outro quando as
idéias gregas ganham espaço no intelecto humano que floresceu em Alexandria (a
exemplo, o surgimento da Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento), os
moldes da teologia cristã começam a prevalecer sobre os anteriores, “[...] isso
explica, por exemplo, por que o ensino dos pais apostólicos, embora não seja
estritamente não-ortodoxo, muitas vezes soa estranho quando julgado por padrões
posteriores [...]” (KELLY, 2009, p. 05). A teologia judaico-cristã continua
exercendo grande influência mesmo depois do primeiro século, destarte a
filosofia greco-romana era a religião mais profunda dos indivíduos que
proporcionaram tanto a cristãos quanto a não-cristãos, uma estrutura
intelectual para exporem suas idéias numa transição nem sempre positiva, porém
negativa para o gnosticismo.
Os
romanos eram de certo modo ecléticos em sua vida religiosa e toleravam toda
religião desde que esta não interferisse no culto ao Estado e ao imperador.
Esses sistemas de religiões certamente tentavam oprimir a igreja cristã
primitiva, porém mesmo com esse cenário confuso religioso é que se construíam os
alicerces do cristianismo. “[...] Parece paradoxal que o principal centro de
inimizade contra Cristo tenha sido a cidade onde a religião cristã começou. Mas
esta é a realidade [...]” (CAIRNS, 2006, p. 45), principalmente pela mesma
manter uma posição de liderança na comunidade cristã da antiguidade.
É de
se pressupor que o paganismo dominava a época, desde o [3]panteão
grego – absorvido pelos romanos – até a prática de Roma em atribuir atributos
divinos aos governantes, também muito se tem escrito sobre a larga popularidade
e influência forte das religiões misteriosas dos gregos, egípcios e povos
orientais sobre este primeiro século da era cristã, que prometiam imortalidade
e purificação das pessoas. Superstições estavam firmemente entrincheiradas nas
mentes da maioria dos povos do império greco-romano, com fórmulas mágicas,
consultas de horóscopos, oráculos e exorcistas profissionais.
“Tal
como a grega, a religião romana não possuía dogmas, sacramentos ou qualquer
crença em recompensas e punições numa vida futura [...]” (DAMIÃO, 2007, p.
164), portanto a religião romana primava nitidamente pela política e era menos
humanista em seus objetivos, principalmente em função da expansão do seu
poderio sobre os estados helenísticos, “[...] enquanto a civilização romana
atinge seu máximo esplendor, na extremidade oriental do Império, na pequena
Palestina, nasce o cristianismo [...]” (DAMIÃO, 2007, p. 167), que enfrentaria
dez grandes perseguições segundo a história.
[1] A Expressão “400 anos de silêncio”, freqüentemente
empregada para descrever o período entre os últimos eventos do A.T. e o começo
dos acontecimentos do N.T. pode não ser apropriada. Embora nenhum profeta
inspirado se tivesse erguido em Israel durante aquele período, e o A.T. já
estivessem completos aos olhos dos judeus, certos acontecimentos ocorreram que
deram ao judaísmo posterior sua ideologia própria e, providencialmente,
prepararam o caminho para a vinda de Cristo e a proclamação do Seu evangelho.
(Adaptado de “From Malachi to Matthew”, de
Charles F. Pfeiffer.Fonte: “A Bíblia Anotada).
[2] Helenismo é um termo que
designa tradicionalmente o período histórico e cultural durante o qual a
civilização grega se difundiu no mundo mediterrânico, euro-asiático e no
Oriente, fundindo-se com a cultura local.
Da união da cultura grega com as culturas da Ásia Menor, Eurásia, Ásia central, Síria, África do Norte, Fenícia, Mesopotâmia, Índia e Irã, nasceu a civilização helenística, que obteve grande destaque em nível artístico, filosófico, religioso, econômico e científico. O helenismo se difundiu do Atlântico até o rio Indo. Do ponto de vista cronológico, o helenismo se desenvolveu da morte de Alexandre, o Grande, da Macedônia (323 a.C) até 147 a.C (anexação da península grega e ilhas por Roma).
Da união da cultura grega com as culturas da Ásia Menor, Eurásia, Ásia central, Síria, África do Norte, Fenícia, Mesopotâmia, Índia e Irã, nasceu a civilização helenística, que obteve grande destaque em nível artístico, filosófico, religioso, econômico e científico. O helenismo se difundiu do Atlântico até o rio Indo. Do ponto de vista cronológico, o helenismo se desenvolveu da morte de Alexandre, o Grande, da Macedônia (323 a.C) até 147 a.C (anexação da península grega e ilhas por Roma).
(Recuperado do site < http://www.suapesquisa.com/grecia/helenismo.htm>. Acesso
em 10 de jul de 2011).
[3]
Compreendem o conjunto de mitos,
lendas e entidades divinas e/ou fantásticas, (deuses, semideuses e heróis)
presentes na religião praticada na Grécia Antiga, criados e transmitidos
originalmente por tradição oral, muitas vezes com o intuito de explicar
fenômenos naturais, culturais ou religiosos - como os rituais - cuja explicação
não era evidente. As fontes remanescentes da mitologia grega ou são
transcrições dessa oralidade, ou trabalhos literários feitos em tempos
posteriores à criação dessa oralidade. Os historiadores da mitologia grega têm,
muitas vezes, de se basear em dados fragmentários, descontextualizados
(fragmentos de obras literárias, por exemplo) ou através de indícios
transmitidos na iconografia grega (principalmente, os vasos gregos) para
tentarem reconstituir a riqueza narrativa e conceptual de uma das mitologias
mundiais que mais interesse desperta.
(Recuperado do site: <http://www.ocultura.org.br/index.php/Mitologia_grega>. Acesso em 09 de jul de
2011).
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